Os Efeitos da Violência na Saúde Física e Mental

 

 

A violência é um fenômeno complexo e multifacetado, que afeta a saúde física e mental das pessoas que a vivenciam direta ou indiretamente. A exposição à violência pode gerar estresse crônico, que por sua vez pode desencadear ou agravar diversas condições de saúde, como hipertensão, insônia, ansiedade e depressão. Essas condições, por sua vez, podem comprometer a qualidade de vida, o bem-estar e o funcionamento social dos indivíduos.

Segundo pesquisa recente, publicada em 9 de agosto pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), os resultados revelam que, nas favelas do Rio de Janeiro (RJ), mais afetadas pelos confrontos, 29,6% contaram terem tido sintomas típicos de depressão e 24,7%, de ansiedade, frente a 15,7% e 16%, respectivamente, nas com menos tiroteios. Já a hipertensão arterial foi citada por 21,1% dos entrevistados nas comunidades mais conflagradas, contra 16% nas menos.

A violência tem efeitos a curto prazo, com sintomas como tremores, falta de ar e taquicardia, além de provocar uma resposta de estresse agudo ou crônico, que elevam os níveis de hormônios como a adrenalina e o cortisol, que por sua vez aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial. A violência pode levar as pessoas a adotarem hábitos não saudáveis, como fumar, beber álcool em excesso ou ter uma alimentação inadequada, que também contribuem para a hipertensão. A constante ativação do sistema nervoso autônomo em resposta ao trauma e à violência pode contribuir para o aumento da pressão arterial.

A exposição a eventos traumáticos está associada também a distúrbios do sono, como insônia. A ansiedade e o estresse pós-traumático resultantes da violência podem causar dificuldades em adormecer, manter o sono e resultar em um sono de má qualidade.

A exposição à violência pode desencadear reações de ansiedade intensa, preocupações persistentes e uma sensação geral de insegurança. Além disso, eventos traumáticos também são um fator de risco significativo para o desenvolvimento da depressão, devido à desregulação química no cérebro e às alterações nas respostas emocionais.

A implementação de políticas públicas abrangentes e a promoção de medidas de segurança eficientes desempenham um papel vital na prevenção e mitigação dos efeitos negativos da violência na saúde mental e física. Algumas estratégias incluem: promover a cultura de paz, o respeito à diversidade e o diálogo entre os diferentes segmentos sociais; fortalecer as redes de proteção social, como família, escola, trabalho, lazer, cultura e saúde; implementar programas de prevenção da violência nas escolas, nas comunidades e nos espaços públicos; capacitar os profissionais de segurança pública para atuar de forma humanizada, qualificada e integrada com os demais serviços públicos; oferecer assistência psicossocial às vítimas de violência, bem como aos seus familiares; estimular a denúncia e o enfrentamento da violência doméstica, sexual, racial, de gênero e outras formas de discriminação; investir em tecnologia, inteligência e monitoramento da criminalidade; avaliar os resultados e os impactos das políticas de segurança pública na saúde mental da população, dentre outras.

É preciso que as políticas públicas sejam planejadas e executadas com base em evidências científicas, participação social e respeito aos direitos humanos.

Referências:

CENTROS DE CONTROLE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS (CDC). Prevenção de Experiências Adversas na Infância (ACEs): Alavancando a Melhor Evidência Disponível. 2019.

CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANÇA E CIDADANIA (CESeC). Disponível em https://cesecseguranca.com.br/ Acesso em 09 de agosto de 2023.

ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME (UNODC). Manual sobre Respostas Policiais Eficazes à Violência Contra as Mulheres. UNODC. 2019.

INSTITUTO NACIONAL DE JUSTIÇA (NIJ). Prevenindo a Violência: Uma Revisão de Pesquisas, Avaliação, Lacunas e Oportunidades. NIJ. 2015.