IA e saúde mental
A inteligência artificial (IA) vem se tornando um recurso de destaque na saúde mental, possibilitando diagnósticos precoces, terapias digitais personalizadas e suporte emocional contínuo (MITCHELL). Sistemas como chatbots e algoritmos preditivos analisam padrões de fala, interações digitais e dados comportamentais para identificar sintomas de depressão e ansiedade (PANDEY). Apesar disso, há limites inegáveis como a ausência de empatia, escuta ativa e a confiança construídas no vínculo terapêutico (BALCOMBE). Nesse sentido, a IA deve ser vista como uma ferramenta complementar ao trabalho clínico, atuando como suporte para ampliar o alcance do cuidado em saúde mental, mas não como substituta da interação humana, fundamental para a subjetividade do processo psicoterapêutico.
Além do que já foi mencionado, o uso excessivo dessas tecnologias pode acarretar efeitos psicológicos adversos. Estudos mostram que a interação prolongada com sistemas automatizados pode intensificar isolamento social, dependência emocional e até quadros de “psicose induzida por IA”, nos quais delírios são reforçados pela ausência de contato com a realidade (DOHNÁNY.). Outro desafio está nos algoritmos enviesados, que podem ampliar desigualdades no acesso e oferecer diagnósticos distorcidos a populações marginalizadas (ESPEJO). Frente a isso, a psicologia e a medicina devem assumir uma postura crítica e ativa, avaliando o impacto da IA sobre a subjetividade, a qualidade dos vínculos sociais e a experiência de pertencimento dos indivíduos em diferentes contextos.
Para que a integração da IA na saúde mental seja benéfica, algumas condições são indispensáveis como a transparência nos algoritmos, a preservação do consentimento informado e a supervisão profissional são princípios centrais (WARRIER). É igualmente necessário promover alfabetização digital crítica, para que os usuários compreendam benefícios e limitações da tecnologia. O fortalecimento de competências emocionais e de estratégias de autorregulação ajuda a reduzir riscos psicológicos associados às interações digitais. Além disso, diretrizes éticas e políticas públicas devem garantir a proteção de dados e o protagonismo humano (PANDEY). Assim, tecnologia e psicoterapia podem atuar de forma integrada, ampliando o alcance do cuidado sem comprometer a dimensão afetiva que sustenta a saúde mental.
Referências:
BALCOMBE, L. Chatbots de IA na saúde mental digital. Informatics, 2023.
DOHNÁNY, S.; KURTH-NELSON, Z.; SPENS, E. Loucura tecnológica a dois: ciclos de retroalimentação entre chatbots de IA e doenças mentais, 2025.
ESPEJO, E. Explorando o papel da inteligência artificial na saúde mental: avanços, armadilhas e promessas. PubMed, 2023.
MITCHELL, B. A inteligência artificial pode revolucionar o cuidado em saúde mental. Psychology Today, 2024.
PANDEY, H. M. Inteligência artificial na saúde mental e no bem-estar: evolução, aplicações atuais, desafios futuros e evidências emergentes, 2024.
WARRIER, U.; WARRIER, A.; KHANDELWAL, K. Considerações éticas no uso da inteligência artificial na saúde mental. Egyptian Journal of Neurology, Psychiatry and Neurosurgery, 2023.