A Violência e Seus Impactos na Saúde Física e Mental

Efeitos da violência na saúde

A violência é um fenômeno muito presente atualmente, além de complexo e multidimensional, cuja manifestação transcende aspectos individuais, sociais e estruturais, refletindo-se diretamente na saúde física e mental das populações. A exposição contínua a situações violentas desencadeia respostas fisiológicas e psicológicas que interferem nos mecanismos de regulação do organismo, provocando desequilíbrios hormonais e alterações comportamentais (PINHATTA). O estresse crônico decorrente desse contexto tem sido amplamente associado ao surgimento e agravamento de doenças como distúrbios do sono, ansiedade e depressão, condições que comprometem o funcionamento global do indivíduo e reduzem significativamente sua qualidade de vida (AVESUM). Estudos recentes demonstram que a vivência de experiências traumáticas decorrentes da violência urbana pode elevar em até 30% o risco de desenvolver hipertensão arterial, evidenciando a relação direta entre estresse psicossocial e adoecimento físico (PINHATTA).

Além das repercussões fisiológicas, a violência atua como potente gatilho para desordens emocionais e cognitivas, afetando o comportamento, o rendimento ocupacional e a vida social. Em contextos de vulnerabilidade, como comunidades periféricas expostas a conflitos armados, é possível observar aumento expressivo de sintomas de ansiedade e depressão, principalmente entre mulheres e adolescentes (REIS). Segundo Miliauskas, a violência comunitária é um determinante social relevante para o surgimento de transtornos mentais comuns, em especial entre jovens residentes em áreas de maior desigualdade social. A ativação constante do sistema nervoso autônomo, motivada pelo medo e pela insegurança, eleva os níveis de cortisol e adrenalina, alterando o sono, o apetite e o humor, e contribuindo para a cronificação de quadros de estresse pós-traumático (AVESUM). Tais condições revelam o caráter cumulativo e interdependente dos impactos da violência, que não apenas fragilizam a saúde individual, mas também repercutem no tecido social.

Diante dessa realidade, torna-se imprescindível que políticas públicas sejam pautadas em evidências científicas e orientadas para a promoção da saúde integral e da cultura de paz. A literatura recente enfatiza a importância da integração entre setores de segurança, saúde, educação e assistência social, com o objetivo de construir redes de apoio e reduzir a exposição populacional à violência (REIS). Estratégias como o fortalecimento das redes de proteção social, a capacitação de profissionais para o atendimento humanizado de vítimas e a implementação de programas educativos voltados à prevenção da violência têm se mostrado eficazes na mitigação de danos físicos e psíquicos (MILIUSKAS). O enfrentamento desse fenômeno, portanto, deve ser compreendido como responsabilidade coletiva e sustentado por práticas interdisciplinares, articuladas e baseadas em direitos humanos, visando à reconstrução do bem-estar e à promoção de uma sociedade mais justa, equitativa e saudável.

Referências:

AVESUM, ALVARO; MATTOS, ANTÔNIO J. C.; FRANÇA, JOÃO Í. D.; IZAR, MARIA C. O.; DRAGER, LUCIANO; SARAIVA, JOSÉ F. K. Estresse psicológico e risco cardiovascular em comunidades brasileiras: um estudo transversal. Cadernos de Saúde Pública, 2024.

MILIUSKAS, CLÁUDIA; JUNGER, WASHINGTON; HELLWIG, NATÁLIA. Violência comunitária em bairros e transtornos mentais comuns entre adolescentes brasileiros. Revista de Psiquiatria BMC, 2023.

PINHATTA, RENATA; LIMA, GABRIEL; ALMEIDA, LUCAS. Associação entre exposição à violência e risco de hipertensão: revisão sistemática e meta-análise. Revista Brasileira de Saúde Pública, 2025.

REIS, FABIANA; LIMA, MARCELA; BARROS, PEDRO; Desigualdades de gênero na vitimização por violência e depressão no Brasil: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. Revista Internacional de Equidade em Saúde, 2023.