Impactos da Adultização Precoce
A adultização ocorre quando se atribui a crianças e adolescentes papéis, responsabilidades e comportamentos do universo adulto para os quais ainda não estão emocional e psicologicamente preparados. Esse fenômeno vai além de delegar tarefas complexas, como cuidar de irmãos ou mediar conflitos familiares, ele se manifesta intensamente na exposição digital, onde práticas como por exemplo, o uso de maquiagem por crianças e a criação desse conteúdo para redes sociais são incentivadas. Embora possam parecer inofensivas, tais ações expõem os jovens a pressões estéticas e padrões de comportamento incompatíveis com sua fase de desenvolvimento. Essa antecipação de vivências adultas, muitas vezes impulsionada pela cultura do consumo e pela busca de engajamento online, prejudica a construção da identidade e pode gerar uma sobrecarga emocional precoce (FLORES).
As consequências psicológicas dessa adultização são profundas. A pressão para corresponder a um ideal de maturidade pode desencadear estresse crônico, quadros de ansiedade, baixa autoestima e até sintomas depressivos (FUNDAÇÃO ABRINQ). Especialistas alertam que, ao ser privada de experiências lúdicas essenciais, a criança perde a espontaneidade e a segurança para explorar o mundo, o que compromete uma etapa fundamental do seu desenvolvimento psíquico. As redes sociais amplificam drasticamente o problema. A dinâmica das plataformas, que recompensa conteúdos chocantes ou erotizados com maior visibilidade, cria um ciclo vicioso de exposição (AGÊNCIA BRASIL). A busca por validação externa e a comparação com padrões irreais são intensificadas. Nesse contexto, a publicação de fotos e vídeos com apelo sensual, mesmo que sem intenção consciente pela criança, pode levar à hipersexualização precoce e atrair a atenção de abusadores.
A situação se agrava quando a exposição é monetizada pelos próprios pais, transformando a rotina e a imagem da criança em um produto. Essa prática, conhecida como sharenting, além de configurar exploração emocional, possui implicações legais sérias. A legislação brasileira, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), protege o direito à imagem, à privacidade e à dignidade, prevendo punições para a exposição vexatória. Adicionalmente, o tratamento de dados pessoais de menores de idade, incluindo a publicação de imagens, deve seguir as diretrizes rigorosas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que exige o consentimento dos pais e a observância do melhor interesse da criança (BRASIL).
Para proteger crianças e adolescentes é fundamental que a sociedade, especialmente pais e educadores, imponham limites claros entre os papéis adultos e infantis. Isso inclui a supervisão ativa do uso de tecnologias, a limitação da exposição e a preservação da privacidade. A educação familiar e escolar deve reforçar a importância do brincar, da convivência com seus pares e da construção de uma autoestima baseada em valores internos, e não em curtidas. Criar um ambiente seguro é o único caminho para garantir um desenvolvimento pleno e emocionalmente equilibrado de crianças e adolescentes.
Referências:
AGÊNCIA BRASIL. Especialistas alertam que crianças não podem ser “produto” das redes. Direitos Humanos, 2025.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, 1990.
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Brasília, 2018.
FLORES, M. M. L. A Criança sob o Olhar da Mídia: Erotização ou Adultização Precoce? Psicologia & Sociedade, 2009.
FUNDAÇÃO ABRINQ. Quais os prejuízos da adultização infantil? 2025.
PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. AMGH, 2013.