Mitos e prevenção do suicídio
Setembro Amarelo é uma campanha mundial de conscientização sobre a prevenção do suicídio, realizada desde 2015 no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, sendo esta a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Pesquisas recentes demonstram que fatores como depressão, ansiedade, isolamento social, fatores econômicos e sociais, além do histórico de traumas, estão diretamente associados ao risco de suicídio (TREVIZOL). Por isso, falar sobre o tema não estimula o ato, mas amplia a possibilidade de reconhecer sinais de alerta e oferecer acolhimento. A informação confiável é uma das mais importantes ferramentas de cuidado.
Apesar desse avanço na discussão pública, muitos mitos continuam prejudicando a prevenção. Um deles é a ideia de que o suicídio acontece “sem aviso”, quando estudos revelam que, na maioria dos casos, existem sinais verbais ou comportamentais prévios que podem ser identificados (COSTA & SILVA). Outro mito bastante perigoso é acreditar que quem tentou uma vez não voltará a tentar, quando pesquisas mostram que a reincidência é um dos principais fatores de risco para novos episódios (ALMEIDA). É um erro comum pensar que quem tenta o suicídio deseja a morte. Ao contrário, pesquisas em psicologia e psiquiatria mostram que o desejo real dessas pessoas não é acabar com a vida, mas sim por um fim à dor psicológica avassaladora que sentem (FERREIRA). Desconstruir essas distorções fortalece as estratégias de cuidado e amplia o alcance da prevenção.
Diante disso, torna-se fundamental reconhecer que buscar apoio psicológico e psiquiátrico não é sinal de fraqueza, mas de coragem diante da dor. O acesso a profissionais capacitados, redes de apoio e canais de acolhimento, como o CVV (188), pode salvar vidas. Estar atento a mudanças de comportamento em pessoas próximas, como isolamento repentino, falas desesperançosas ou abandono de atividades habituais, permite uma intervenção precoce. A escuta empática pode ser o primeiro passo para oferecer ajuda concreta. A prevenção do suicídio, portanto, é responsabilidade coletiva, envolvendo profissionais da saúde, familiares, amigos e toda a sociedade. Setembro Amarelo nos lembra que cuidar da vida é um compromisso permanente, feito de atenção, diálogo e solidariedade.
Referências
ALMEIDA, R. M. Tentativa de suicídio e risco de recorrência: evidências clínicas e epidemiológicas. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 2022.
COSTA, L. A.; SILVA, M. P. Suicídio e impulsividade: mitos e evidências. Revista Psicologia em Pesquisa, 2022.
FERREIRA, V. R. Redes de apoio social na prevenção do suicídio. Saúde em Debate, 2021.
MACHADO, D. B. Estigma e comportamento suicida: desafios à saúde pública. Ciência & Saúde Coletiva, 2021.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Suicídio no mundo em 2023: estimativas globais de saúde. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 2023.
TREVIZOL, A. P. Fatores de risco e prevenção do suicídio: uma revisão narrativa. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2022.