Sobre o Puerpério e os Transtornos Emocionais Pós-Parto
O puerpério é um período marcado por intensas transformações físicas, hormonais e emocionais na vida da mulher, começando após o parto e se estendendo até que o corpo retorne às condições pré-gestacionais. Essa fase pode desencadear sentimentos de tristeza, exaustão, ansiedade e irritabilidade, exacerbados por privação de sono e mudanças na rotina. A renúncia momentânea de desejos e necessidades pessoais, devido à dedicação integral ao bebê, pode afetar o bem-estar emocional da mãe. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse período é de alta vulnerabilidade para o surgimento de transtornos psíquicos, especialmente depressão e ansiedade. O apoio emocional e social é considerado um fator protetivo essencial para a saúde mental materna (BRASIL).
O Baby Blues é um quadro transitório de instabilidade emocional que acomete até 80% das mulheres no puerpério, caracterizado por choro fácil, irritabilidade e sensibilidade emocional, geralmente entre o 2º e o 10º dia após o parto (SOUZA et al.). Apesar de não ser considerado um transtorno mental pelo DSM-5, exige atenção e apoio para não evoluir para quadros mais graves. Já a Depressão Pós-Parto (DPP) atinge de 10 a 20% das puérperas e manifesta-se com sintomas como tristeza intensa, desesperança, distúrbios do sono e apatia (MACHADO et al.). Sem intervenção adequada, a DPP pode comprometer o vínculo mãe-bebê e o desenvolvimento infantil, justificando ações de prevenção e diagnóstico precoce.
A Psicose Pós-Parto, embora rara (prevalência de 0,1 a 0,2%), é uma condição grave e emergencial que pode se instalar nos primeiros 15 dias após o parto. Os sintomas envolvem delírios, alucinações, agitação psicomotora e pensamentos autolesivos ou de agressão ao bebê (GONÇALVES et al.). Nesses casos, a internação hospitalar e o acompanhamento psiquiátrico imediato são fundamentais. Considerando as particularidades desse ciclo, é imprescindível oferecer assistência qualificada e multidisciplinar à puérpera, incluindo psicólogos, psiquiatras e profissionais da obstetrícia. Investir em saúde mental perinatal é essencial para o bem-estar da mãe, do bebê e de toda a família (BRASIL). Em todos os casos citados, o acompanhamento médico e psicológico é primordial para a proteção da saúde mental materna e de toda família.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Linha de cuidado para a atenção integral à saúde mental perinatal. Brasília: MS, 2023.
GONÇALVES, L. L. et al. Psicose puerperal: reconhecimento e abordagem. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2023.
MACHADO, D. B. et al. Prevalência de depressão pós-parto no Brasil: revisão sistemática. Revista de Saúde Pública, 2020.
SOUZA, F. M. et al. Transtornos mentais comuns no puerpério: panorama em saúde pública. Cadernos de Saúde Coletiva, 2021.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Saúde mental materna: Diretrizes para cuidados perinatais. Genebra: OMS, 2022.