O ciúme é uma emoção humana comum, experimentada por quase todos, em algum momento da vida. Sentir ciúmes do parceiro, do amigo ou do familiar, pode surgir como uma resposta natural a situações de ameaça ou insegurança emocional, no entanto, em algumas pessoas, o ciúme pode se tornar patológico, ultrapassando os limites da normalidade e causando sérias implicações para a saúde mental e o bem-estar pessoal e interpessoal.
O ciúme pode ser saudável ou patológico, dependendo da intensidade, como já mencionado, além de sua frequência e consequências que provoca. O ciúme saudável é aquele que não interfere na vida pessoal, profissional ou social da pessoa, que é baseado em fatos reais. O ciúme patológico é aquele que é excessivo, irracional, obsessivo ou delirante, que prejudica o bem-estar da pessoa e dos outros, que é baseado em fantasias ou suspeitas infundadas e que gera comportamentos de controle, agressividade ou violência.
Freud (1921) foi um dos primeiros a estudar o ciúme patológico sob a perspectiva psicanalítica. Ele distinguiu três tipos de ciúme: o normal, o projetado e o delirante, sendo o normal, uma emoção saudável em níveis moderados; o projetado, quando o indivíduo projeta seu ciúme no parceiro e o delirante, onde o ciúme é extremo, irracional e acompanhado de crenças delirantes.
Kingham e Gordon (2004) abordam o ciúme patológico como uma manifestação do TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo). Eles afirmam que o ciúme patológico é um conjunto de pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos relacionados à infidelidade do parceiro, que causam ansiedade e interferem na vida da pessoa.
Mallmann (2010) discute o ciúme patológico sob a ótica psicanalítica. Ele diferencia o ciúme normal do patológico, considerando este último como uma expressão de conflitos inconscientes, como a rivalidade edípica, a inveja, a baixa autoestima e a dependência emocional. Ele analisa as características e os mecanismos de defesa envolvidos no ciúme patológico, como a projeção, a negação, a idealização e a agressividade.
As implicações e consequências do ciúme patológico podem ser graves, tanto para quem sente quanto para quem é alvo. O ciúme patológico pode causar sofrimento psicológico, baixa autoestima, depressão, ansiedade, isolamento social, dependência emocional, perda de confiança, conflitos interpessoais, rupturas afetivas, abusos físicos ou psicológicos, e até mesmo homicídios ou suicídios. O ciúme patológico também pode estar associado a outros transtornos mentais, como transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de personalidade borderline, transtorno delirante ou esquizofrenia.
As formas de tratamento variam de acordo com o grau e a origem do problema. Em geral, recomenda-se a busca pela ajuda profissional de um psicólogo e/ou psiquiatra, que podem avaliar o caso e indicar a melhor abordagem terapêutica. Algumas possibilidades de tratamento são: terapia cognitivo-comportamental (TCC), que visa identificar e modificar os pensamentos e comportamentos disfuncionais relacionados ao ciúme, terapia de casal ou familiar, que visa melhorar a comunicação e a confiança entre os envolvidos e a medicação, quando necessária, que visa aliviar os sintomas de ansiedade ou depressão associados ao ciúme. Além disso, é importante que a pessoa reconheça o seu problema, busque apoio social, desenvolva atividades prazerosas e trabalhe a sua autoestima e autoconfiança.
Referências
FREUD, S. Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. 18. Rio de Janeiro: Imago. (Publicado originalmente em 1921).
KINGHAM, M., & GORDON, H. Aspectos do ciúme mórbido. Avanços no Tratamento Psiquiátrico. 2004.
MALLMANN, I. S. Ciúme: o lado amargo do amor. Porto Alegre: Artmed, 2010.
MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS (5ª ed.). Porto Alegre: Artmed, 2014.