A palavra latina “persona” originalmente se referia à máscara usada pelos atores no teatro romano, e posteriormente passou a ser utilizada para descrever a identidade ou papel social de uma pessoa. É importante ressaltar que a definição de personalidade pode variar de acordo com a teoria e a perspectiva adotada pelos pesquisadores. Ao longo dos anos, diversos autores contribuíram para o desenvolvimento dessa área de estudo. Sigmund Freud enfatizou a influência do inconsciente e dos impulsos sexuais na formação da personalidade. Carl Jung expandiu a teoria de Freud, destacando a importância dos arquétipos e do inconsciente coletivo. Mais tarde, Albert Bandura introduziu a teoria social-cognitiva, enfatizando a influência do ambiente e do aprendizado na formação da personalidade. Recentemente, pesquisadores como Costa e McCrae propõem o modelo dos “cinco grandes traços”, destacando dimensões como extroversão, neuroticismo, amabilidade, conscienciosidade e abertura à experiência.
Como já mencionado, a personalidade é um conceito complexo e multidimensional que envolve padrões estáveis de pensamentos, sentimentos e comportamentos de um indivíduo. Uma definição contemporânea interessante é a de Robert Hogan (2017), diz que a personalidade é a soma total dos traços emocionais, comportamentais e cognitivos que caracterizam uma pessoa e a diferencia de outras pessoas, enfatizando a natureza única e distintiva da personalidade de cada indivíduo, que contribuem para a identidade pessoal.
Os Transtornos de Personalidade, grupo de transtornos mentais, em que experiências subjetivas e comportamentos disfuncionais ocorrem de forma persistente e inflexível a partir de um momento entre o fim da adolescência e o começo da vida adulta, conforme Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Tais experiências e comportamentos não são esperados para o meio cultural do indivíduo e geram prejuízo significativo em âmbitos da vida como trabalho, relações interpessoais e o enfrentamento de adversidades.
O DSM-5 adota uma classificação dos Transtornos de Personalidade em três grupos: Grupo A: caracterizado por comportamentos excêntricos. Inclui o transtorno de personalidade paranoide (desconfiança excessiva e suspeita dos outros), esquizoide (isolamento social e falta de interesse por relacionamentos), esquizotípica (pensamento e percepção distorcidos, como crenças estranhas ou alucinações). Grupo B: caracterizado por comportamentos dramáticos, emocionais ou impulsivos. Inclui o transtorno de personalidade antissocial (desrespeito e violação dos direitos dos outros, sem remorso ou culpa), borderline (instabilidade emocional, impulsividade e medo de abandono), histriônica (busca exagerada por atenção e aprovação, com comportamento teatral e sedutor), narcisista (sentimento de superioridade e necessidade de admiração, com falta de empatia). Grupo C: caracterizado por comportamentos ansiosos. Inclui o transtorno de personalidade evitativa (evitação de situações sociais por medo de crítica ou rejeição), dependente (submissão excessiva e dependência dos outros para tomar decisões) e obsessivo-compulsiva (preocupação com ordem, perfeição e controle, com rigidez e inflexibilidade).
A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem um interesse contínuo no estudo dos transtornos de personalidade. Em 2018, a OMS publicou o “Relatório de Saúde Mental do Mundo”, que incluiu informações sobre a prevalência de transtornos de personalidade em todo o mundo. O relatório indicou que os transtornos de personalidade são muito comuns, afetando cerca de 10% a 15% da população geral.
O tratamento para transtorno da personalidade geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar que combina intervenções médicas e psicológicas. A psicoterapia desempenha um papel fundamental nesse processo, permitindo explorar padrões disfuncionais de pensamento, emoções e comportamentos, promovendo a autocompreensão, o desenvolvimento de habilidades saudáveis e a mudança de padrões prejudiciais.
Referências:
HOGAN, R. Personalidade e o Destino das Organizações. Porto Alegre: Artmed, 2017.
LIVESLEY, W. J.. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição: DSM-5. In R. HOGAN (Ed.), Manual de Avaliação e Planejamento de Tratamento para Transtornos Psicológicos. Porto Alegre: Artmed, 2017.
MANUAL DIAGNÓSTICO e ESTATÍSTICO de TRANSTORNOS MENTAIS (5ª ed.). Porto Alegre: Artmed, 2013.
MILLON, T., KRUEGER, R. F., & SIMONSEN, E. Perspectivas Contemporâneas em Psicopatologia: Fundamentos Científicos do DSM-5 e CID-11 (3ª ed.). Porto Alegre: Artmed, 2018.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Transtornos de personalidade: Guia de recursos para profissionais de saúde mental. 2018.