Relação da Religiosidade e Espiritualidade com a Saúde Mental

 

 

Os temas relativos a religiosidade e a espiritualidade foram negligenciados por muito tempo na prática clínica e em cursos de graduação. Atualmente, apesar das ciências serem laicas, os estudos realizados incentivam estas abordagens, de maneira ética e com foco na qualidade de vida do paciente.

Inicialmente, algumas definições são necessárias. O conceito de religiosidade está relacionado com as práticas religiosas, compartilhadas publicamente em instituições, com aspectos na atividade religiosa, dedicação e crença religiosa. Já o conceito de espiritualidade está relacionado as práticas particulares do indivíduo, não sendo necessária compartilhar com os outros em ambientes religiosos, buscando significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio, como diz Socci (2006).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a descrever a qualidade de vida como multidimensional, nas esferas física, psíquica, social e espiritual. E continuando, de acordo com a OMS, saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. A Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) afirma que no campo da saúde, a religiosidade/espiritualidade possuem implicações significativas para prevalência, diagnóstico, tratamento, desfechos clínicos e prevenção de doenças.

Observa-se ainda que a religiosidade/espiritualidade tem relação com a saúde mental, devido as implicações com o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, como já foi dito, podendo contribuir favoravelmente ou não.  A religiosidade pode gerar níveis patológicos quando existe exaltação da punição e da culpa, diminuindo a autoestima, quando a pessoa se sente excluída do contexto religioso por algum comportamento que tenha e que seja contrário aos demais, quando há ideologias voltadas para a raiva, dentre outros. Em contrapartida, o envolvimento religioso reduz a ansiedade quando dá suporte, permitindo a organização de conflitos emocionais, orientação moral e ética, além de desencorajar práticas prejudiciais a saúde, como menciona Medeiros (2010). Os valores da religiosidade/espiritualidade também ajudam o indivíduo, fazendo um elo entre as redes de apoio, por vezes restabelecem vínculos familiares e por consequência melhoram o quadro clínico.

Diante disso, mesmo que as ciências sejam laicas, ou seja, não adotam e nem favorecem nenhuma religião em particular, mas estuda a relação da religiosidade/espiritualidade com a saúde e sua influência no comportamento humano. É importante investigar o contexto cultural que envolve a religiosidade/espiritualidade para que o diagnóstico seja assertivo em relação a saúde mental. Se o paciente pertence a comunidade religiosa, se tem crenças, como as usa para lidar com o que lhe causa estresse. A psicoterapia tem um papel importante, pois ajuda o indivíduo desenvolver diante de suas características singulares, estratégias de enfrentamentos para equilíbrio da saúde e qualidade de vida.

 

Referências:

 

Medeiros, B. A Relação entre Religiosidade, Culpa e Avaliação de Qualidade de Vida no Contexto do HIV/AIDS. 2010.

Socci, V. Religiosidade e o adulto idoso. In G. P. Witter (Org.). Envelhecimento: referenciais teóricos e pesquisas (pp. 87-101). Campinas, SP: Alínea. 2006.


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